Queimadas
por Amanda Figueiredo, Celina Pinagé, Frances Alves e Joelson Aparecido
Este é um chamado para você que está lendo, isso mesmo! Saímos de Julho devendo a Terra, entramos no cheque especial, o dia da sobrecarga chegou um mês mais cedo este ano. Essa data marca o momento em que consumimos mais recursos naturais da Terra, do que ela pode produzir em um ano.
Cada vez mais esse dia vem se antecipando e isso quer dizer que iniciamos Agosto consumindo recursos do futuro, uma situação tensa e preocupante, tá passada?? Dentre os vários motivos, que são muitos, para que isso aconteça, as Queimadas se destacam pelo aceleramento da sobrecarga, ameaçando a biodiversidade e intensificando a crise climática e vamos te contar os porquês.

O fogo é um elemento que está intimamente ligado à história da evolução humana e no desenvolvimento civilizatório. Sempre presente na história, coevoluiu com alguns ecossistemas para própria manutenção das espécies que ali vivem, cumprindo importante função, como exemplo da quebra da dormência de sementes para ajudar nos processos de germinação e da incorporação de nutrientes fertilizando o solo a partir das cinzas. Esses processos conhecidos se dão através dos “incêndios naturais”, principalmente em áreas de savana e campos e aqui no Brasil, fazem parte do equilíbrio de biomas como cerrado, por exemplo.

Com a domesticação do fogo, esse elemento tão importante na natureza passou a ser recurso essencial para o desenvolvimento humano. Desde a antiguidade, como instrumento de dominação cultural/social, desenvolvimento tecnológico, entre outras ações antrópicas. Os povos tradicionais, que por muitos séculos utilizaram para diversas finalidades, entre elas a agricultura e de forma responsável, utilizam desse elemento nos tempos atuais, sem prejuízos ao meio ambiente e mantendo a procura da harmonia homem e natureza.

Porém, essa prática tão importante na história do desenvolvimento da nossa sociedade, vem sendo utilizada pela agricultura extensiva e grandes pecuaristas com uma finalidade diferente da utilizada pelos povos tradicionais. As queimadas e o desmatamento são as etapas iniciais para a mudança do uso do solo dando início a agricultura extensiva e a pecuária, de grosso modo, são atividades intencionais e bem planejadas que afetam o bem estar humano, destroem a biodiversidade e os ecossistemas planetários.

Dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontam a Amazônia como o segundo bioma com mais focos de queimadas nos últimos anos, um bioma úmido de floresta tropical, no qual os incêndios espontâneos e naturais não deveriam acontecer. A Caatinga, bioma exclusivo brasileiro, é o que apresenta maior crescimento do número de queimadas em 2021 e que já apresenta elevado grau de desertificação, “especialistas atribuem o crescimento das queimadas à expansão da agricultura na região e à antecipação do período seco, fenômeno que pode estar ligado às mudanças climáticas e tende a se intensificar” diz a matéria da BBC News São Paulo. 

Em 2020, a Polícia Federal em parceria com o Ministério Público Federal, realizou investigações que levaram a conexões entre os incêndios criminosos do Pantanal a grupos de grandes latifundiários da região, umas das hipóteses é a de que o fogo utilizado como um método para desmatar e, posteriormente, ocupar essas áreas com a atividade pecuária.

As problemáticas da intensificação desse processo de queimadas tem se tornado irreversíveis. Já sofremos as consequências diretas, como o aumento das temperaturas e as ilhas de calor, problemas de saúde relacionados ao trato respiratório por inalação de fumaça, diminuição da fauna e de grupos de insetos polinizadores essenciais para manutenção dos ecossistemas.

Outro agravante é a diminuição das chuvas em muitas regiões do país. As mudanças climáticas têm intensificado o período de seca e diminuído a umidade atmosférica, propiciando um bom ambiente para a dissipação do fogo, reduzindo a massa verde formada por árvores que estocam o CO2 da atmosfera, gases responsáveis pelo aquecimento global. Quando as florestas são queimadas, liberam para atmosfera o CO2 estocado, aumentando a temperatura. Por isso, as queimadas e as mudanças climáticas têm uma relação muito estreita, influindo diretamente no aumento da outra!

A Floresta Amazônica é a responsável pelas chuvas que ocorrem em outras partes da América do Sul. A evapotranspiração proveniente da floresta forma grandes massas de umidade, os rios voadores, que são transportados para outras partes do continente, levando chuva e aumentando o volume dos corpos d’água. Quanto maior o desmatamento e as queimadas na região, menos umidade é gerada e transportada para outras regiões, podendo levar escassez a diversos lugares do Brasil e do continente.

Segundo o Relatório Anual do Desmatamento do Brasil do MapBiomas em 2020 o desmatamento dos biomas brasileiros cresceu 13,6% e o índice de ilegalidade está acima de 95% em todos estes e, como comentado, as queimadas e o desmatamento são as etapas iniciais do ciclo do uso da terra. Com alto grau de ilegalidade, desmonte da fiscalização e afrouxamento de leis, governo negacionista e apoiador do agronegócio e a boiada passando em todas as formas de vida, o Brasil perdeu ano passado, em média, 24 árvores por segundo.

Para ter uma ideia, o Pantanal foi o bioma com o maior índice de desmatamento e aumento de alerta, tudo isso devido às grandes queimadas recordes neste território. E, recentemente, dia 03/08/21, foi aprovado na câmara o Projeto de Lei 2633/2020, ou PL da Grilagem que permite a entrega de terras públicas aos grileiros. Ataque direto aos territórios indígenas e as unidades de conservação do país, que deixará um rastro de destruição e violação de direitos humanos e ambientais enorme.

Compreender a diferença do uso do fogo pelas comunidades tradicionais e o agronegócio, assim como as diferenças entre as Queimadas e os Incêndios Naturais, é primordial em um momento que cresce a disseminação de notícias falsas, as famosas fake news. Essas notícias, têm como finalidade distorcer a real situação ambiental no Brasil, atacar grupos ambientalistas e prejudicar os trabalhos de combate aos incêndios.

Em 2021, as queimadas continuam aumentando e presente em todos os biomas e para variar, o INPE, responsável por monitorar focos de queimadas e desmatamento no território brasileiro, tem sofrido com ataques do governo atual desde que passou a apontar a diminuição intensa de cobertura vegetal por ações criminosas estimuladas pelo próprio líder da União. O INPE se mostrou essencial para a elaboração de políticas públicas eficazes contra o desmatamento e seu sucateamento é do interesse daqueles que ainda financiam as práticas criminosas de derrubada de árvores em prol do agronegócio.

Diante desses dados e das notícias desanimadoras da inércia do governo em resolver o problema, precisamos destacar também as ações contrárias, iniciativas movidas pelo sentimento de proteção ambiental para o combate aos incêndios oriundas de organizações não governamentais e da sociedade civil organizada. Como a Brigada da APA Baía Negra, na cidade de Ladário-MS que é formada por comunidades ribeirinhas da própria região e a Brigada Alto Pantanal, iniciativa do Instituto Homem Pantaneiro, que criou a base de combate aos incêndios na Região da Serra do Amolar na fronteira do estado de Mato Grosso do Sul com o estado de Mato Grosso. A maior parte dos brigadistas que compõem a equipe, são moradores das comunidades tradicionais da própria região, que compreendem a necessidade da relação harmônica com a natureza e da preservação ambiental.

Frear as queimadas criminosas, assim como outras ações danosas ao meio ambiente e ao Planeta é possível, mas para que isso ocorra de forma mais efetiva, é necessário a conscientização e mobilização de toda a sociedade, apoiando ações de conscientização ambiental, intuições de combate aos incêndios, órgãos de fiscalização e preservação florestal e principalmente, escolhendo representantes comprometidos com uma melhor qualidade de vida no planeta, para todas as formas de vida.

Na gestão do meio ambiente e no combate às queimadas e incêndios florestais, a presença da juventude em espaços de tomada de decisões se faz necessária. A pressão popular sob os órgãos de fiscalização ambiental, secretarias responsáveis e governantes de todas as instâncias, tem apresentado ótimos resultados ao cobrar um posicionamento perante crimes ambientais e irresponsabilidades ecológicas. Tomemos nossos lugares, sejamos porta-vozes dessa mudança!











O MUVUCA - Programa de Ativismo Climático é um programa de formação e mentoria do NOSSAS que consistiu, ao longo de 6 meses, na formação de um grupo de 35 jovens lideranças no campo do ativismo climático e ambiental, sendo 60% dos participantes provenientes da região amazônica. Com muita mão na massa, o programa promoveu discussões com foco em mobilização e incidência em políticas públicas para a garantia de justiça climática.




O NOSSAS é uma organização que impulsiona o ativismo democrático e solidário no Brasil articulando pessoas, indivíduos, coletivos e organizações em sua luta por direitos e melhores políticas públicas, compartilhando metodologias e desenvolvendo tecnologias para mobilização.